quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Y YO, EN ESTA MAÑANA DE LLUVIA INTENTANDO LAVAR MI CONCIENCIA








"Y yo, aquí,
en esta mañana de lluvia intermitente
como todos, intentando lavar mi conciencia."

Antonio Urdiales

Os que sabem e entende
dizem que, enquanto que no sul
todos os verbos se conjugam sempre no subjuntivo,
no norte, indiferente
ondula o modo imperativo.

Dizem que no sul a miséria foge da noite,
às vezes tentando escapar de ódios genocidas
induzidos por algum ente que se julga iluminado
ostentando o peito carregado de medalhas,
mas sempre sangrando com as punhaladas rígidas de fome;
essa mesma miséria que desesperada joga a vida ao tudo ou nada
navegando oceanos de angústia
amontoada em balsas ou em caiaques obsoletos
mas dos quais o mar, esse implacável negociante,
sempre cobra sempre a devida percentagem.

Outros, boa gente, dizem
que nada soa tão terrível
como o eco do disparo de um AK47
nas mãos de um menino combatente
pouco mais alto que aquela arma
mas, talvez, haja um ruído ainda pior,
é o que faz uma bala disparada por um AK47
ao atingir brutalmente
a cabeça de um menino combatente.

Há quem diz também
que pelas lixeiras das grandes urbes deste norte
abundam ratazanas tão enormes e meninos tão pequenos
que às vezes são confundidos escavando na sujeira
e que somente se os distingue
pelas cicatrizes dos profundos cortes
que estes se produzem enquanto procuram seu sustento,
ou pela escura pele curtida em imundícies
ou o silêncio profundo aninhado no seu olhar inquisitivo.
Mas ninguém diz nada
desses outros ratos que habitam um escritório inalcançável
reis Midas que prostituem o divino para decidir sobre o humano
capazes na sua ânsia de poder e de riqueza
de gerar qualquer holocausto que lhes renda um benefício.

Outros, gente crente,
dão graças ao seu deus por ter de tudo
e lavam sua consciência com água benta
e golpes no peito
e pedem rezando nas igrejas pelos pobres
e pagam o dízimo para ter livre acesso ao céu acendendo velas
à mais milagrosa das imagens
e são felizes pensando que tudo está sob controle
porque nada escapa ao olhar do todo-poderoso.
Mas os deuses, parece
que também padecem o seu norte e o seu sul,
e bastante trabalho têm
com ir classificando as almas dos mortos
gerados de nossa ambição e nosso ódio
para que nenhuma do pecaminoso sul
se cole no seu santificado norte.

E eu, aqui,
nesta manhã de chuva intermitente
como todos, tentando lavar minha consciência.

Foto e texto do blog Al Pie de mi Silencio
© Antonio Urdiales ~ ® Diciembre 2008
Tradução: Tania Alegria

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