segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Diga não ao escapismo

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Peguei daqui: http://protopia.wikispaces.com/nao.ao.escapismo



Em tempos difíceis, não há nada tão cômodo (e nada tão comum) quanto a síndrome do avestruz. Ela consiste que esconder a cabeça no buraco e acreditar (ou pelo menos torcer) que todo o resto do corpo está em segurança. O avestruz sabe que o predador se aproxima, tem uma mínima consciência de que vai virar comida (e depois merda), mas tudo o que consegue fazer é se enganar.






São tantas e tão variadas as formas que assume a síndrome de avestruz que seria necessário o mesmo número de caracteres existentes na Wikipédia somente para listá-las. Em termos políticos essa síndrome é contemporaneamente chamada de escapismoEm nossa sociedade o escapismo assumiu atributos de uma série de estilos de vida.








O workaholic também enfia sua cabeça em um buraco, neste caso o buraco é o próprio mundo do trabalho. Geralmente sua vida privada está entre o tédio e a nulação, suas relações e afinidades são praticamente inexistentes, e enquanto o mundo desaba ao seu redor, o Workaholic só quer saber de trabalhar um pouco mais. Esquecer do resto do mundo e suas crises, para o Workaholic o trabalho é um refúgio, tirar seu trabalho é implodi-lo já que sem ele, o workaholic se torna um nada.



Para as torcidas - de futebol, classicamente, na América Latina - o que importa é que seu time seja campeão. Normalmente os torcedores fanáticos possuem trabalhos miseráveis, problemas familiares e vivem nessa espelunca que nós chamamos de mundo. Mas isso pouca importa para eles, já que possuem em sua frente o buraco para enfiar a cabeça chamado estádio de futebol. Quando estão nos estádios, gritam, bradam por justiça, por guerra, por força, por garra, por determinação. Pelo estádio se sentem livres para gritar aquilo que deveriam fazer fora dele. É como o avestruz que, se sentindo num mundo insuportável, põe a cabeça no buraco e berra nele, com medo de que outros avestruzes não gostem do berro e sem saber que todos os outros fazem a mesma coisa.






Entre os típicos niilista alternativo, o junkie é aquele que recorre à "remédios" pouco ortodoxos - de calmantes não reconhecidos pela OMS à estimulantes que transformam qualquer um em uma sorridente líder de torcida - tudo conseguido em alguma boca ou quebrada do bairro: que miríade de formas fantásticas é capaz de se travestir o consumo. Afinal de contas o junkie paga suas próprias contas (impostos e consumos) e ninguém tem nada a ver com isso, (certo?). No trem das conseqüências, ninguém é uma ilha por mais que se cerque de ilusões por todos os lados. Todo o potencial transformador e criativo de um junkie se resume e se consome no ato de cambalear num mundo cambaleante na calçada do centro da cidade ou na cobertura de algum amigo riquinho. Neste admirável tempo de novos escapismos, seja qual for, para muitos a droga é o SOMA. Só resta a pergunta: é possível que um escapista atravesse as portas da percepção. A resposta realmente não importa, o que importa é que entre a realidade e o dopping, se você é um junkie, optou pelo dopping, logo sua realidade cotidiana provavelmente é um imensa sucessão de momentos sacais que desafiam a cada instante sua vontade de existir. Será a fuga o melhor remédio?

"...meio grama para uma folga de meio dia, um grama para um fim de semana, dois gramas para uma viagem ao suntuoso Oriente, três para uma eternidade sombria na Lua." Aldous Huxley - Admirável Mundo Novo





O telespectador é possivelmente o avestruz que já aceitou sua impotência perante o mundo. Ele não berra mais no buraco e nem quer achar minhocas cor-de-rosa voadoras dentro dele. Ele simplesmente quer achar um buraco confortável, que sua cabeça não doa, que dê pra respirar gostoso e que tenha um buraquinho onde no fundo se enxerga a bunda daquela avestruz gostosa. Ele, inclusive, já aceitou que sequer comer aquela avestruz gostosa conseguirá, pois isso só é possível para os avestruzes que possuem mais penas e buracos mais luxuosos. Assim, o telespectador aceita que outros possuam buracos mil vezes maiores que o dele, aceita que ele jamais terá o prazer sexual que deseja, aceita que sua comida será eternamente o bagaço e se contenta em contemplar, passivo em seu buraco, os desejos satisfeitos de outros avestruzes.


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