Empreiteiro diz que polícia de SP usa caixa 2 em obras
DE SÃO PAULO
A Polícia Civil de São Paulo pagou R$ 40 mil, em notas, a um empreiteiro, sem exigir recibo ou nota fiscal, segundo depoimento dele à Corregedoria obtido pela Folha. Dinheiro vivo e ausência de recibo são características clássicas de caixa dois.
A informação é do repórter especial Mario Cesar Carvalho, publicada na edição deste domingo da Folha (a íntegra da reportagem está disponível para assinantes da Folha e do UOL).
O episódio ocorreu em outubro do ano passado, no Palácio da Polícia, na região central de São Paulo, de acordo com relato do empreiteiro Wandir Falsetti.
Falsetti fiz ter recebido o pagamento em dinheiro vivo do delegado Marcus Vinicius Vieira, de um órgão chamado Apafo (Assistência Policial para Assuntos Financeiros e Orçamentários).
O empreiteiro conta que sua empresa reformou em 20 dias o prédio que desde fevereiro do ano passado abriga o Denarc (Departamento de Narcóticos), no Bom Retiro, também no centro da cidade.
A obra, orçada em R$ 200 mil, foi realizada sem licitação ou qualquer outro documento oficial, segundo o delegado Everardo Tanganelli Jr., chefe da divisão de narcóticos até fevereiro de 2009.
Policiais ajudaram a pagar a mudança e parte da reforma, afirma Tanganelli Jr. Ele diz ter dado R$ 20 mil para o empreiteiro. O chefe dos investigadores entregou um carro, uma Montana 2007, no valor de R$ 28 mil. Outros três policiais deram R$ 33 mil, diz o empreiteiro. Ele reclama que o Estado lhe deve R$ 80 mil.
Tanganelli Jr. e os policiais que pagaram parte da obra estão sob investigação da Corregedoria da Polícia Civil. Para o órgão, policiais que dão dinheiro do próprio bolso a um empreiteiro vão tentar, um dia, recuperar esses valores.
OUTRO LADO
O investigador Oswaldo Cardenuto confirma que deu um carro ao empreiteiro no valor de R$ 28 mil. Ele diz ter feito isso porque "é obrigado a trabalhar". "O prédio estava inabitável. Tinha até pomba morta na caixa d'água. Se deixo de cumprir uma ordem, não é o Estado que é punido. Sou eu".
Segundo ele, todos os distritos são reformados com dinheiro levantado pelos próprios policiais. O mesmo tipo de procedimento ocorre com viaturas e computadores.
A Secretaria da Segurança diz que a investigação sobre irregularidades na reforma do prédio existe, mas não pode dar detalhes para não atrapalhar o caso. Segundo a secretaria, a investigação corre sob "sigilo policial".
A Folha procurou o delegado Marcos Vinicius Vieira na última sexta-feira, mas não conseguiu localizá-lo. O ex-secretário de Segurança Ronaldo Marzagão diz que reformas de prédios não passavam por seu gabinete.
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