Os policiais anunciaram a apreensão de 200 quilos; o piloto da carga falou em 300. Apenas 98 quilos foram entregues à Justiça.
Do G1, com informações do Jornal Nacional
O Ministério Público de São Paulo e a Corregedoria da Polícia Civil investigam se policiais foram responsáveis pelo desvio de parte de uma carga de cocaína apreendida pela polícia no interior do estado em setembro de 2003. O piloto do avião que transportava a droga foi preso na época e morreu na prisão. As circunstâncias da morte também são apuradas.
A quantidade que foi desviada é objeto de análise e pode variar entre 102 e 202 quilos. O piloto do avião declarou que o carregamento era de 300 quilos. Já o Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) afirmou que havia aproximadamente 200 quilos de cocaína no avião. No entanto, apenas 98 quilos da carga foram entregues à Justiça. A apreensão foi feita no aeroclube de Itu, no interior de São Paulo.
“Se alguém dentro das fileiras do estado está usando o brasão do estado pra traficar entorpecente, a investigação vai mostrar e essas pessoas vâo responder por isso”, afirmou o promotor de Justiça, José Reinaldo Carneiro.
Para tirar a dúvida se a droga desapareceu ou se a carga foi calculada de forma errada, o Jornal Nacional levou as imagens da droga dentro do avião para serem analisadas por um perito criminal. Em outra aeronave, do mesmo tipo, um Cesna 210, foram colocados pacotes com farinha de trigo, que tem volume parecido com o da cocaína.
A farinha foi embalada segundo informações dos policiais: cinco fardos, cada um com 20 pacotes em forma de tijolos, totalizando cem pacotes. Cada pacote tinha um quilo, totalizando 200 quilos, como foi divulgado oficialmente.
O volume entre essa carga e os 98 quilos, apurados pelos peritos, ocupam um espaço visivelmente menor.
A simulação mostra que a quantidade que tem nas imagens é compatível com 200 quilos e não com 98 quilos. Para levar os 98 quilos não seria preciso tirar nenhum banco do avião, o que foi feito no dia do transporte da droga.
No laudo, o perito afirma que a carga de cocaína não poderia ser de 98 quilos. Segundo ele, no momento que foi feita a imagem, havia 200 quilos de cocaína dentro do avião.
O piloto, Mario de Jesus, garante que o avião transportava 300 quilos. “Simplesmente roubaram 202 quilos”, diz numa carta que escreveu da cadeia.
O Jornal Nacional procurou um dos policiais que participaram da apreensão que hoje ocupa um cargo de chefia no Detran. Ele estava no prédio, mas não quis gravar entrevista. Também foi procurado o delegado que assina o auto de apreensão da cocaína. Ele continua trabalhando no Denarc, mas se recusou a falar.
O piloto que denunciou o sumiço da cocaína queria, em troca, redução da pena. Ele dizia que tinha sido ameaçado pelos investigadores que fizeram a apreensão. “Tenho medo de ser morto por esses policiais do Denarc”, escreveu. Na ficha prisional do piloto consta: falecimento, oito meses depois da denúncia. Motivo: morte natural, dentro da penitenciária.
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