terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A VIOLÊNCIA DE PERTO

http://blig.ig.com.br/cidadao_sos/2009/01/19/violencia-um-olhar-bem-de-perto/



Todo mundo tem suas explicações para a violência urbana no Brasil. Tem gente que sabe tudo sobre a violência, menos como solucionar ou ao menos equacionar o problema.É muito difícil analisar profundamente a violência. Provavelmente, todos os estudos sobre o assunto tem seus acertos e erros. O que queremos aqui é apenas mostrar como a violência é vista pela periferia, ou seja: De dentro para fora.
Eu moro em uma rua pequena, poucas são as casas deste lado da avenida, menos de 100. Nesta parte da rua (que tem menos de 300 metros) pelo menos 23 casas abrigam famílias que contam com um ou mais integrantes com passagens pelos presídios ou presos atualmente, abriga ainda muitos presidiários em potencial, que muito embora a policia ainda não tenha localizado tem como principal fonte de renda uma atividade criminosa.
Tendo vivido na região boa parte da vida, tive a indigesta oportunidade de ver como pessoas que sonham em ser algo que lhe pareça heróico (ainda que seja caminhoneiro ou cantor de sei-lá-o-que) se degeneram, tornam-se criminosos e muitas vezes monstros insensíveis.
Precisamos entender que dificilmente uma família é composta apenas por criminosos mas 20% de famílias com algum integrante criminoso é um numero absurdo.
Se você pensar que a media populacional é de 3 pessoas por domicilio, temos 60 criminosos morando em 300 metros ou um a cada 5 metros.
Por que na periferia os criminosos se multiplicam??
Não existe um fator especifico. As causas da violência são incontáveis e cada individuo tem seu próprio gatilho, sendo influenciados de formas diferentes por diversos fatores.
Um aspecto pouco abordado pela mídia é que o estereotipo do criminoso típico mudou muito radicalmente e em pouquíssimo tempo.
Três são os fatores principais para esta mudança: O surgimento de mega-quadrilhas ao estilo “Máfia” que controlam o crime em grandes territórios, a disseminação de drogas mais letais e baratas como o crack e o ECA (estatuto da criança e do adolescente). O surgimento de mega-quadrilhas sofreu ainda um up-grade fantástico com a “era da comunicação” onde a Internet e o celular facilitaram os contatos e o acesso a informação e conhecimento.
Tudo isto somado, criou um ambiente favorável a cultura do crime como uma bactéria letal que achou solo fértil no degradado ambiente da periferia.
Certamente o ECA e a revolução da informação e da comunicação são boas coisas, mas somados criam uma formula onde o crime consegue ser mais ágil sempre que a burocracia estatal.
Criminosos que usam violência sempre existiram e é até utópico imaginar que a violência pode acabar em um dia qualquer antes que o mundo inteiro se acabe mas o garoto sem expectativa nenhuma com uma mãe ausente e quando muito um pai alcoólatra ou analfabeto funcional é o alvo preferencial do crime por ser protegido pelo Eca, por ser muito mais vulnerável ao poder do dinheiro e por ser induzido as drogas sem resistência alguma, já que poucas coisas lhe trazem euforia na vida. Servem ao crime – principalmente o trafico de drogas -por pouquíssimo tempo e são lançados fora quando perdem o beneficio da inimputabilidade. A esta altura é um dependente de droga e devidamente habilitado para o uso da violência, só que sem renda novamente e sem a menor condição de conseguir progredir honestamente na vida sem auxilio.
Com a comunicação em seu favor as mega-quadrilhas conseguiram se estruturar de forma profissional e com a hierarquia rígida e implacável imposta pelo capitalismo selvagem. Os pobres que eram explorados pelas empresas legalmente constituídas e em troca de mão de obra desqualificada recebiam um percentual mínimo da riqueza produzida, onde raros eram os casos de ascensão profissional, estão na mesma situação, mas agora a serviço do crime.
O complexo e intricado mundo do crime chega hoje até você até por meio de inocentes brinquedos chineses, diversões noturnas ou jogos de azar e os brilhantes pensadores deste país precisam encontrar uma forma de entender a violência e articular os mecanismos de combate desde o militar do exercito que patrulha as fronteiras até o fiscal municipal que combate o comercio ilegal, não esquecendo obviamente de medidas sociais eficazes, que incluam os jovens (qualquer bolsa para mim é clientelismo moderno) para que talvez assim o jovem morto a tiros – seja pela policia ou por outros bandidos – tenha seguido a carreira criminosa prioritariamente por opção.


Um comentário:

Cidadão Quem? disse...

Olá,

Sou o editor do blog Cidadão Quem?. Cheguei a esta matéria por indicação do proprio autor, um professor da rede publica, lider comunitario engajado e que prefere ficar anonimo. Ele nem colabora mais com nosso blog, mas compartilho com ele a felicidade em ver suas idéias repercutidas. Muito embora não compartilhe as mesmas convicções politicas estarei incluindo este blog em meu blogroll.
Nossa luta, mesmo em discordancia politca, é a mesma: Cidadania!

Obrigado e Há braços(Para abraçar e para lutar)!