segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A EVOLUÇÃO DE LONGO PRAZO PODE DIFERENCIAR DOIS SUBTIPOS DE PSICOSE DE INICIO TARDIO.
CASO A
foto de www.ziza.es
Paciente A., sexo feminino, 2º grau de escolaridade, há dois anos apresentou delírios de ciúmes, risos imotivados, labilidade emocional e alteração no comportamento. Acreditava ser traída pelo marido, tendo certeza, inclusive, do nome de sua amante. Passou a apresentar-se inquieta e hostil, chegando a ser agressiva com o cônjuge. Por mais que seu marido não lhe desse motivos para desconfianças, A. mantinha a certeza de estar sendo traída.
Iniciou uso de haloperidol 2 mg/dia com troca para risperidona 0,5 mg/dia e prometazina 25 mg/dia devido aos tremores em extremidades de membros superiores e discinesia de boca. Apresentou remissão do delírio de ciúmes e da heteroagressividade, porém manteve inquietação. Evidenciava afeto esmaecido, apatia e diminuição da concentração, com conseqüente dismnesia imediata. Não houve declínio nas atividades diárias, porém deixou de fazer crochê, seu passatempo, alegando desânimo, mas não esquecimento em como fazê-lo. Ressalta-se que a maior parte das atividades do lar sempre foi feita pelo seu marido.
Em pouco tempo de uso de antipsicótico era evidente a moderada discinesia orofacial que melhorou com a retirada do anticolinérgico.
Dois anos após início do quadro, mantinha-se em remissão dos sintomas psicóticos produtivos, mas não havia juízo crítico de morbidade ou insight. Oscilava momentos de melhora e piora da inquietação, sem relação com a dosagem instituída do antipsicótico.
Ao final deste segundo ano de doença, houve piora progressiva da apatia, e a paciente deixou de fazer as atividades do lar – lavar algumas roupas, cozinhar e arrumar as camas. Quando muito estimulada, tentava reiniciar o trabalho de crochê interrompido, mas sustentava por pouco tempo.

Nas consultas, falava apenas quando questionada, interagindo pouco. Apresentava-se com prejuízo no planejamento executivo, apatia, afeto esmaecido e piora da dismnesia, apesar de o marido negar déficits mnêmicos. Não se evidenciou quadro de depressão em nenhum momento durante a evolução da doença.
No ano seguinte, houve importante piora cognitiva, da apatia e de sua interação com familiares. Durante as consultas, respondia apenas de forma lacônica. O filho relatou que nessa época ela começou a apresentar falsos reconhecimentos. Em casa, perambulava sem motivo aparente.
Não houve internação psiquiátrica. Há relato de quadro psiquiátrico semelhante com sua genitora.

Revista de Psiquiatria Clínica

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