quarta-feira, 19 de novembro de 2008


AS ALUCINAÇÕES
E OS DELÍRIOS NA PSICOPATOLOGIA


IDÉIA DELIRANTE: TENTE ENTENDER COMO PENSA ( OU ACHA QUE PENSA) O  SEU ESQUIZO-PARANÓICO.

A prática clínica da psiquiatria deixa bem claro a constatação da primeira regra de diagnóstico do delírio (deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável). Diante de um paciente delirante, cuja ruptura com a realidade é evidente, não conseguimos demover tal conteúdo do pensamento mediante qualquer tipo de argumentação. Caso o paciente deixe-se convencer pela argumentação da lógica, razoavelmente elaboradas pelo interlocutor, decididamente não estaremos diante de um delírio, mas sim de um engano por parte do paciente ou de uma formação deliróide. Para ser delírio a convicção dever ser sempre inabalável. A argumentação racional não deve afetar a realidade distorcida ou recriada de quem delira, independentemente da capacidade convincente e da perseverança daquele que se empenhar nesta tarefa infrutífera.
Em relação à segunda regra, sobre a impossibilidade do delírio primário ser compreendido por pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade, a lógica da realidade do delirante não é aplicável à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de compreensão psicológica do delírio: carece relação entre a temática delirante e os elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do paciente.
Nos casos de delírio secundário, muitas vezes relacionados à vivências traumáticas, eles se apresentam de forma a sugerir um determinado mecanismo de defesa contra uma forte ameaça psíquica, normalmente angustiante. Por exemplo: um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de quatro dedos da mão direita, começou apresentar uma expressiva inadequação afetiva (ao invés de aborrecido, mostrava-se feliz) e com um delírio no qual julgava-se Deus, cheio de poderes, auto-suficiente e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele duvidavam. Tal ideação emancipada da realidade poderia ser entendida como um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em compensação mutilação e deficiência, o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de uma Idéia deliróide, a qual habitualmente pode fazer parte de numa reação psicótica aguda.
Delírios com temática semelhante ou mesmo igual ao exemplo exposto quando surgem em pessoas sem nenhuma vivência justificadora, sem nenhuma possibilidade de redução dinâmica vivencial e impossíveis de conteúdo ou de compreensibilidade são os verdadeiros Delírios Primários. Já, a Idéia Deliróide, seria conseqüência de um estado afetivo subjacente e perfeitamente relacionável com uma vivência expressiva, por isso secundário.
A Idéia Delirante, ou Delírio, espelha uma verdadeira mutação na relação eu-mundo e se acompanha de uma mudança nas convicções e na significação da realidade. O delirante encontra-se imerso numa nova realidade de forma à desorganizar a sua própria identidade e se desorganiza pela ruptura entre o sujeito e o objeto, entre o interno e o externo, ou seja, entre o eu e o mundo. É uma modificação radical das relações do indivíduo com a realidade, manifestando-se através de uma espécie de alienação do Ego.
O grande psiquiatra alemão, Emil Kraepelin escreveu que os "delírios são idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por meio do argumento". Outro grande psiquiatra da éploca, Bleuler, por sua vez dizia que "idéias delirantes são representações inexatas que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior. Não há necessidades senão afetivas". Como percebemos, Kraepelin parece deter-se mais naquilo que entendemos por delírio primário, enquanto Bleuler já ventilava uma possibilidade do delírio secundários.
  
Cortado daqui: 

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