Caros Zé e Índio,
Sendo remota a possibilidade de nos encontrarmos quero cumprimentá-los através desta singela missiva, mal traçadas linhas que saem do fundo do coração. Nesta hora, lembro a velha máxima que diz ser o tempo o senhor da razão. Não sei muito bem o que significa isso e nem se se aplica a este caso em verve, mas achei bonita a citação. Desculpe-me se foi mal colocada, este escriba esforça-se mas nem sempre acerta. Todos os esforços empreendidos não serão esquecidos e com certeza voces contribuiram para o desenvolvimento deste país em que nascemos e a maioria de nós escolheu para viver, mesmo que alguns tenham preferido ausentar-se por uns tempos, mudar de ares, vislumbrar as neves das cordilheiras e voltar com família constituida depois que o pau comeu.
Caríssimo`Índio, homem simples,um vencedor na vida, alçado a candidato a vice-presidente, deixo aqui deste canto de despedida: baila, baila comigo, como se baila na tribo.Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio, viver pelado pintado de verde num eterno domingo.
A você Zé, que se diz professor e economista, mas que na verdade tem como verdadeira profissão ser político, voce que tem mais vocação do que sangue nas veias, que sempre considerou o povo o seu verdadeiro patrão, tenha paciência. Com certeza esse povo que é seu patrão não inclui pessoas desqualificadas e mal agradecidas que não votam em voce. Saiba relevar e mantenha a calma. Existem muitos ingratos e outros, além de ingratos, plebe ignara que prefera o milho às perolas que voce distribui.
Não se esqueça que perder e ganhar faz parte do jogo político. Voce ganhou duas e perdeu uma. É apenas um detalhe que esta que voce perdeu seria a maior de sua vida, a sua realizaçã no exercício de um cargo para o qual se preparou toda a sua vida. Esta flagorosa derrota é apenas um movimento no jogo político e certamente será seguido por outro. Então aguarde o próximo. Mesmo quase septuagenário, voce carrega o vigor da juventude. Quatro anos passam rápido. Um instante e 2014 estará batendo às nossas portas, acenando para mais uma eleição presidencial. Se bem que como voce já perdeu duas vezes é capaz que não queiram mais voce, mas isso também faz parte do jogo político. Aécio e Alckimin poderão estar como pedras em seu caminho. Caberá a voce remover essas pedras com essa destreza que lhe é peculiar e tão bem exercita.
Há pessoas mesquinhas que acreditam que um pequeno insucesso numa eleição torna um candidato derrotado para sempre. Nessa e em outras empreitadas. Eu acho que elas tem toda razão. Voce já era. É carta fora do baralho. Mas, se quiser, não acredite nisso. Finja que uma eleição é apenas uma batalha. Ganha-se umas, perde-se outras e assim vai-se levando essa vida de político. Não pense na palavra derrota. Não existem derrotas. Existem insucessos momentâneos. mesmo que seja um insucesso que pode acabar com sua trajetória política.
Não é hora não é de se arranjar culpados para o insucesso. Mas se existissem culpados, deveriam arder no fogo do inferno ou devolver o dinheiro que voce gastou. Lembre-se sempre. Voce não foi derrotado. Apenas perdeu uma eleição. Era a eleição mais importante da sua vida, mas isso é detalhe. Mas, talvez estejam esquecendo os méritos do adversário, das estratégias erradas que voce traçou, das táticas corretas e fulminantes que o adversário usou. Veja deste prisma: se voce era o melhor candidato e não foi eleito, o grande derrotado foi o povo e não voce. Esse pensamento vem de encontro ao seu egocentismo arrogante e falacioso e cai-lhe bem. Como uma luva.
Mas o que eu queria dizer mesmo é que estou muito contente e realizado de voces terem se ferrado. Voces perderam apesar de todos as artimanhas urdidas em conluio com os verddeiros detentores do poder: as elites dominantes que queriam a todo custo a sua vitória. Jogaram sujo de todas as maneiras, valeram-se de todos os artifícios conclamando até ingerências internacionais em nossos assuntos caseiros. Bateram pesado e sujo. Mas nada adiantou. Voces perderam e eu fiquei contente.
Esperei horas para assistir ao seu discurso de entregar os pontos, admitir a derrota. Mas nem assim voce foi verdadeiro. Voce perdeu e e achou que não foi por que o povo não o quis? Voce perdeu por que o povo, na verdade, sabendo quem é voce quis o seu adversário.
O povo quis Dilma, presidente do Brasil.
Vai para casa. deite e chore na cama que é lugar quente. Pague um sapinho para a dona Mõnica. Com certeza ela tem parcela de culpa nessa sua derrota acachapante. Mas ela teve boa intenção só quis ajudar. Talvez se ela perdesse o sotaque cairia melhor. Voce fez bem em escondê-la durante a campanha. Uma primeira dama com sotaque poderia não ser bem aceita pelos eleitores mais exigentes e nacionalistas exaltados. Reflita sobre sua arrogância. Veja onde estavam concentrados os votos que voce perdeu. Quem sabe tire algumas lições disso.
Termino aqui deixando uma abraço. E reiterando que foi muito bom ter visto a sua derrota e a sua cara de nádegas ao tentar explicar por que não ganhou. Por que voce, na sua infinita arrogância jamais perde. Apenas deixa de ganhar.